Crescer ou crescer

Crescer ou crescer

É hoje de domínio público que a causa básica da redução da nossa taxa de crescimento foi o enfraquecimento da produção industrial após a rápida recuperação de 2010. Neste final de 2014, o setor industrial revela sinais de desânimo e fraqueza. Depois de longa esperança de mudança, ameaça desempregar porque tem muita dúvida sobre sua capacidade de recuperação. A valorização do câmbio primeiro roubou-lhe a demanda externa (o que exportava) e depois roubou-lhe a demanda interna (substituída pela importação). O câmbio não foi tudo, mas foi quase tudo, na subtração de US$ 370 bilhões da demanda (externa e interna) de bens manufaturados nos últimos 10 anos!

A valorização do câmbio somada ao aumento dos salários reais acima da produtividade do trabalho e à rápida expansão do crédito produziu uma profunda separação entre a demanda interna de bens industriais comercializáveis e sua oferta interna, com a diferença suprida pela importação. A produção industrial não caiu por falta de demanda interna. Caiu porque parte dela foi desviada para a importação.

Para devolver a competitividade ao setor industrial que lhe permita voltar a suprir a demanda interna e reencontrar a externa para garantir-lhe a necessária economia de escala, precisamos muito mais do que chamamos de “política industrial”. Exige, antes de mais nada, a compreensão que hoje em torno de 60% do comércio de bens industrializados e serviços são intrafirmas internacionais e que cerca de 400, dentre as 500 maiores delas, estão no Brasil.

A expansão de suas exportações envolve uma cuidadosa indução política: um entendimento com suas matrizes que respeite a estratégia global de lucro de cada uma. É fundamental a compreensão que a “importação” é um fator de produção como são o trabalho e o capital, além de ser determinante na redução dos custos da exportação e no aumento da produtividade total dos fatores. A política industrial não é para restringir a importação. É para expandir, ao mesmo tempo, a exportação e a importação!

Isso só pode ser feito por uma “política de governo” que transcenda a discussão superficial que insiste na “abertura” unilateral antes que se cuide de devolver a isonomia competitiva ao setor industrial. É preciso:
1. Uma forte coordenação macroeconômica entre as políticas fiscal, monetária, salarial e cambial que produza um razoável equilíbrio interno e externo sem retroceder na inclusão social e
2. Uma inteligente regulação microeconômica que respeite a eficiência alocativa dos fatores de produção, porque é ela que produz o aumento da produtividade e, logo, o crescimento econômico.

* Por  Antonio Delfim Netto
Fonte: Folha de S.Paulo Online

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