Crime ambiental em São Paulo

Crime ambiental em São Paulo

Georghio Tomelin,
advogado em São Paulo

Em São Paulo penso que elegemos “rapidamente” o Gov. Alckmin do PSDB para que ele pudesse começar imediatamente o rodízio de água. Somente o rodízio pode salvar a Cantareira do risco de extinção. Esses limites de volume morto (nunca utilizado antes) protegem a represa. A tal reserva é o que mantém viva a represa. Se não houver gestão séria da área, o terreno seco impede a retomada do acúmulo de água.

Aquela área da represa pode sim se transformar num deserto, e nunca mais voltar a encher. É um problema do ciclo das águas. Por esta razão está havendo tanto conflito entre o Governo do Estado (Sabesp), o Ministério Público e a Agência Nacional de Águas. O manancial precisa ser protegido e gerido de maneira responsável, o que não está sendo feito pelo Governo do Estado.

Se somos muitos em São Paulo. Se construímos demais. Se impermeabilizamos a cidade toda, temos que arcar com os ônus que criamos. No prédio onde moro, todos estamos suportando já a consequência da irresponsabilidade coletiva. Ninguém tem culpa individualmente, mas o síndico tem que se movimentar.

O mais grave nisso tudo é a postura do Síndico-Mor do Estado de SP, retratada na charge da Folha de São Paulo de 18.10.2014. O médico Alckmin está rasgando o diploma que possui (começo a duvidar que tenha mesmo se formado em medicina). A falta de planejamento da Sabesp é algo indizível, para quem administra a água da maior cidade do mundo abaixo da linha do Equador.

A Sabesp (Companhia de Água de São Paulo) não tem nenhum projeto-piloto (ainda que experimental), por exemplo, de dessalinização da água do mar. Utilizar a água do mar 20 anos atrás era caríssimo e quase impossível. Hoje é plenamente viável e já é feito com custos muito reduzidos em vários países. A Sabesp recebeu do Governador do PSDB a diretiva de NEGAR a falta d’água, para não atrapalhar o quadro eleitoral, e assim vem fazendo. Quanta irresponsabilidade!

Quem retorna para casa um pouco mais tarde a noite, vê os caminhões-pipa circulando por todas as ruas (na cidade de São Paulo há restrição de circulação durante o dia). Apesar disso, a mídia pouco fala do tema (e a charge de hoje da FSP é um verdadeiro milagre). O preço do caminhão-de-água (com 10 mil litros em média) pulou de 400 para 600, mil e 1200 reais (em algumas regiões). E a Sabesp continua negando o racionamento. E avança no volume-morto, arriscando secar o leito da represa (o que mata sua função).

Se o rodízio de água tivesse começado antes (em fevereiro, março ou mesmo julho de 2014) quando todo este quadro já era passível com previsões meteorológicas, várias pessoas mais teriam tomado consciência, e começado a poupar água. Isto porque a realidade é triste, mas as pessoas são assim: só se movem quando “a água começa a bater na bunda” (e aqui ela está faltando).

Vamos ficar parados? O risco de perder votos para o PSDB em São Paulo é maior para o Governador do que a saúde da sua população? Reaja!

*Publicado originalmente no Blog do Tarso

** Charge: Reprodução

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