Mulheres devem ter cotas para ocuparem a cúpula das empresas?

Mulheres devem ter cotas para ocuparem a cúpula das empresas?

A discussão sobre cotas para mulheres na cúpula de grandes empresas é tema de importante interesse para os profissionais e empresários da Engenharia. Não há dúvidas sobre o crescimento do número de mulheres formadas na área e o quanto elas já transfomaram a realidade de um mercado de trabalho que durante anos foi esteriotipado como campo de atuação masculina.

Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostraram que, em 2003, no Brasil, as engenheiras eram 16,8% do mercado e recebiam 70% do salário pago aos homens; em 2013, passaram para 20,6% e a diferença na remuneração caiu para 21%. Um resultado melhor do que a média das profissões universitárias (62%). Houve expansão no emprego para a categoria acima da média nacional, e a inserção feminina superou a masculina, em termos relativos – a primeira foi de 128%; a segunda, 77%.

Vice-Presidente do Senge BA, a engªde alimentos Márcia Nori ressalta que apesar do notório aumento da presença feminina na Engenharia, a predominância na área ainda é masculina, o que torna mais preocupante para a categoria a luta contra a desigualdade de gênero sofrida pelas mulheres no mercado de trabalho.

“Algumas pesquisas revelam que as mulheres possuem alguns anos a mais de estudo do que os homens, indicando que tecnicamente estão mais bem preparadas para atuarem no mercado de trabalho. Mas existem dificuldades dessas profissionais terem ascensão nas empresas. A questão salarial também ainda é um problema. É comum as mulheres ganharem 30% a menos do que os homens, ocupando os mesmos cargos. “, diz.

 

A engenheira citou a pesquisa do Instituto de Pesquisa do Banco Credit Suisse feito com 28 mil líderes, de 3 mil empresas, em 36 países. Segundo o estudo, as mulheres em cargos de chefia são minoria em todas as áreas das companhias. No mundo, elas ocupam apenas 13% da alta liderança. No Brasil, não chegam a 10%. Quando alcançam o topo, grande parte dessas profissionais ocupa cargos considerados de apoio, como recursos humanos, comunicação, jurídico e contabilidade.

Essa realidade provocou o debate em diversos países sobre o estabelecimento em lei de uma política de cotas para mulheres ocuparem os conselhos das empresas. A medida já foi adotada em alguns países. Em 2003, a Noruega aprovou a obrigatoriedade da presença feminina em 40% das cadeiras dos conselhos de administração das companhias de lá. Assim como a Espanha, França, Finlândia, Holanda e Itália. Em março deste ano, a Alemanha também criou nova lei para as mulheres ganharem posição de hierarquia nas empresas, destinando até 30% das cadeiras nos conselhos de administração para as executivas.

No Brasil, apenas 8 em cada 100 profissionais de alto escalão nas empresas são do sexo feminino, segundo uma pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas). Outro número, do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) confirma o contraste: as executivas não passam de 7,2% nos conselhos administrativos brasileiros.
Engenheiras no Poder –  Primeira presidente mulher eleita, e reeleita, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Paraíba – Crea PB, a engªagrônoma Giucélia Figueiredo é a favor das cotas para mulheres nos conselhos das empresas.

Para Giucélia, a ação afirmativa das cotas contribui para não só reparar esse histórico contraste entre homens e mulheres nos cargos de poder das empresas, mas também para promover  o debate sobre essa e outras desigualdades de gênero. “Mas isso é muito pouco diante do papel que as mulheres podem desempenhar na organização e comando das empresas com competência, foco e sensibilidade na gestão de pessoas, elemento estratégico no âmbito das instituições”, ressalta.

Na acirrada disputa eleitoral, a presidenta do Crea-PB conta que enfrentou várias situações de preconceito de gênero. “Conduzi como uma oportunidade de travar um bom debate e uma boa disputa, apresentando propostas consistentes que dialogavam com as expectativas e anseios dos profissionais para o conselho profissional que defendemos e estamos construindo. Posso dizer que foi e estar sendo o maior desafio que vivenciei na minha vida profissional e politica”, relata.

Sobre a participação das engenheiras nos cargos de direção e presidência das entidades profissionais, Giucélia acredita que cada vez mais as mulheres estão se conscientizam da necessidade não só de participar das suas entidades , mas também disputar os espaços de poder  e de decisão. “Como diz o ditado popular, ai o bicho pega: quando deixamos de ser coadjuvantes e passamos  a disputar o protagonismo, as relações de gênero são explicitadas”, destaca.

A engªcivil Juçara Leão, diretora do Sindicato da Indústrica da Construção do Estado – Sinduscon/BA e da Bramp Construções, também é a favor das cotas para mulheres na cúpula das empresas. “Existem mais homens exercendo cargos executivos nas empresas, apesar de termos muitas mulheres que são profissionais multitarefa, capacitadas e responsáveis, com potencial de vencer obstáculos e ocupar cargos de poder”, diz.

Segundo a engenheira, dados do CREA-SP, entre 2005 e 2012, mostram que o número de mulheres credenciadas aumentou 142%. “Dado importante, pois evidencia um crescimento considerável no número de mulheres nos diversos cursos das áreas das engenharias e consequentemente, que em breve, vai também aumentar a presença feminina nas diretorias e presidências de entidades profissionais”, conclui Juçara.

“Saias de Ouro” –  Um dos problemas centrais apontados com a política de cotas é o risco das empresas nomearem mulheres para o conselho tão somente para cumprir as regulamentações, ao invés de selecionarem a pessoa mais indicada para o cargo.
Em matéria especial sobre o tema, a Exame.com relatou a experiência na Noruega depois que as cotas foram implementadas e as mulheres assumiram várias diretorias, pois as empresas corriam para atender às exigências legais. A situação fez com que essas diretoras fossem apelidadas de ‘saias de ouro'”.

Entre as soluções alternativas apontadas, está a adoção de metas voluntárias pelas empresas, ou seja, ações para promover e valorizar mulheres que fossem tomadas espontaneamente pela iniciativa privada.

Para Adriana Carvalho, assessora da ONU Mulheres, entidade dedicada ao empoderamento feminino, as mulheres não têm chance de ocupar cargos nas empresas porque suas competências enquanto líderes não são reconhecidas.

“Nossa cultura patriarcal sempre viu o chefe na figura do homem, e esse é um viés muito difícil de superar em pouco tempo”, disse Adriana em entrevista à Exame.com.

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