Primeiro dia do COBENGE 2018 discute novas diretrizes para cursos de Engenharia

Primeiro dia do COBENGE 2018 discute novas diretrizes para cursos de Engenharia

Inciou ontem (03) e vai até o dia 06 de setembro o XLVI Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia (COBENGE), evento promovido pela Associação Brasileira de Educação em Engenharia – ABENGE e do qual do Senge-BA é um dos patrocinadores. Em 2018, o evento traz como tema principal “Educação Inovadora para uma Engenharia Sustentável”. O Senge-BA está representado pela vice-presidente, a Engenheira de Alimentos e professora da UEFS, Márcia Nori.

Conforme explica o presidente da ABENGE, Vanderli Fava de Oliveira, o Congresso é voltado para o debate sobre diretrizes inovadoras para os cursos de engenharia, buscando alinhá-los com as tendências mundiais. “Durante o evento nós vamos discutir também aprendizagem ativa, metodologias inovadoras, questões de implantação de cursos por competência e teremos também grupos de trabalho que irão tratar de assuntos especiais, como a matemática e a ciência no curso de engenharia, como elaborar novos currículos… Enfim, é um evento que trata de tudo aquilo relacionado à busca de melhorias para a formação de engenharia no Brasil, que é o único fator de desenvolvimento de qualquer país que queira se emancipar”.

O primeiro dia de evento foi dedicado ao debate sobre as novas  Diretrizes Curriculares Nacionais  (DCNs) dos Cursos de Engenharia, cujos objetivos seriam tornar os currículos mais flexíveis, interdisciplinares e focados na inovação. A base da proposta foi elaborada pela ABENGE e  pela Mobilização Empresarial pela Inovação da Confederação Nacional da Indústria (MEI/CNI), com contribuições do CONFEA.

Para o presidente do Crea-BA e professor da UFBA, Luís Edmundo Prado de Campos, é importante manter o diálogo sobre quaisquer que sejam das Diretrizes; destaca entretanto, que nova proposta traz vantagens especialmente no que se refere a uma mudança de paradigma de avaliação: “essa nova diretriz vem com uma mudança que, ao invés de avaliar por conteúdo, avalia por competência. Aí entra um grande problema para a gente, porque estamos sempre acostumados a avaliar por conteúdo, como avaliar em competência? Então temos que repensar isso, repensar na universidade porque acho que é a melhor forma mesmo”, avalia.  Outro ponto positivo, segundo ele, seria facilitar a formação continuada: “você pode imaginar que uma pessoa pode fazer cursos e ir adquirindo competências, que serão colocadas na sua atribuição profissional a todo momento. Antigamente, nós tínhamos que aprender tudo em cinco anos e achávamos que iriamos levar o resto da vida com aquele conhecimento na cabeça… Então são coisas boas, modernas, para essa juventude que está aí, com uma forma diferente de ensinar e aprender, então acho que a gente tem que se adequar a essa realidade”.

Representante da MEI/CNI, Zil Miranda considera que é necessário atualizar currículos e melhorar a formação de engenheiros e engenheiras para garantir recursos humanos capazes de contribuir para a competitividade e inovação das empresas e o desenvolvimento do país. “Para a gente é uma satisfação enorme estar aqui no COBENGE porque essa articulação entre a academia, empresas e governo é essencial para a gente melhorar nosso ambiente competitivo, melhorar nossas políticas. Toda essa discussão que a gente faz aqui de aprimoramento das Diretrizes vai convergir para uma formação melhor que é o que a gente tanto carece. É modernizar para acompanhar toda essa mudança tecnológica que está acontecendo e que o nosso engenheiro precisa ser melhor preparado para esses desafios que já estão aí”. Ela também ressaltou que é objetivo da MEI – entidade formada por mais 200 empresas nacionais e estrangeiras – é colocar a inovação como estratégia perene de crescimento das empresas e contribuir com subsídios para o aprimoramento de políticas públicas. “Para a gente a discussão de recursos humanos é fundamental porque a gente sabe que nenhum país consegue se desenvolver de verdade, se tornar competitivo, se a gente não tiver mão de obra qualificada. Por isso a gente trabalha a agenda de RH hoje especialmente focada na área de engenharia, porque engenheiro é basilar, a gente precisa da engenharia para o desenvolvimento científico e tecnológico. Claro que a gente precisa também de outras formações, mas o engenheiro é fundamental, ele está ali na base do que a gente vê como nossa competitividade”.

Reforçando a necessidade de realizar um amplo diálogo, o Conselheiro Federal do Confea, André Luiz Schuring, que representa o presidente Joel Krüger no evento, lembra que as estruturas curriculares têm impacto direto no momento da atribuição de competência. “Eu só consigo dar atribuição em cima da formação que o engenheiro teve na faculdade. Então se ele, por exemplo, entender que é um engenheiro civil e não conseguiu aprender na faculdade – ou não teve essa matéria na faculdade – sobre estruturas e uma série de outras identificações que é o que a sociedade imagina da engenharia, nós não podemos conceder título para ele e aí vai ter um problema muito sério. Por esse motivo o Confea entende que precisa ser ouvido e nós, Conselheiros Federais, estamos imbuídos nessa discussão”.

A professora Sara Rios, da Universidade Estadual de Feira de Santana, pondera é preciso ainda entender as razões para a mudança: “lá [na UEFS] a gente debateu esse assunto com a preocupação de por que mudar. As DCNs que nós temos  são de 2002, relativamente novas, e elas já têm possibilidade de flexibilização, já preveem o ensino em habilidades e competências, então a gente não percebeu a imediata necessidade dessa alteração. Flexibilizar é favorável, isso ninguém nega, mas  isso já está previsto na resolução de 2002. A gente também questionou a questão de não ter novos agentes [na elaboração do projeto], sociedade civil organizada, sindicatos, a gente sente falta de um debate mais transdisciplinar, já que é essa a proposta”.

Mulheres na Engenharia 

Durante o COBENGE  aconteceu também o lançamento da campanha “Mais Mulheres na Engenharia” e a entrega da primeira edição do prêmio Edwiges Becker Hor-Meyll, que homenageou mulheres que se destacam na educação em engenharia no Brasil. A professora Tatiana Dûmet, diretora da Escola Politécnica na UFBA foi uma das homenageadas e, durante seu discurso destacou sua trajetória profissional e apontou alguns desafios que permanecem para as mulheres como a permanência nas universidades a ascensão nas carreiras. “É uma grande honra receber esse prêmio ao lado de outros exemplos de destaque na educação em engenharia no Brasil”, afirmou ela, que dedicou o prêmio à mãe, que estava presente na cerimônia. Para a pesquisadora Maria Rosa Lombardi, referência no estudo de divisão sexual do trabalho, que também estava presente, os “casos exemplares” são importantes para inspirar as mais jovens, porém é necessário ter em mente que a desigualdade de gênero é um problema estrutural da sociedade: “A gente sabe que mulheres e homens partem de patamares diferentes para ingressar nas profissões. Quantas outras não conseguiram progredir, quantas o sofreram assédio moral?”, questiona. Mas acredita que há avanços a serem comemorados “Acho que estamos caminhando, barreiras continuam existindo, mas acho que há coisas positivas na luta”.

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