“Sem tecnologia não há esperança para esse país”, afirma Othon Pinheiro da Silva em palestra

“Sem tecnologia não há esperança para esse país”, afirma Othon Pinheiro da Silva em palestra

A defesa do Brasil como um país democrático, soberano, com o desenvolvimento pautado pelas necessidades de seu povo, e o papel dos recursos energéticos e das tecnologias para que isso aconteça deram a tônica da palestra “A Política de Energia Nuclear Brasileira e a Soberania Nacional”, que aconteceu ontem (25), no Auditório Leopoldo Amaral, Escola Politécnica da UFBA. O expositor foi o Engenheiro Naval e Almirante reformado da Marinha Othon Luiz Pinheiro da Silva, principal expoente do programa nuclear brasileiro.

O evento, que reuniu cerca de 250 participantes, é parte do projeto SOS Brasil Soberano, uma inciativa idealizada pela Federação de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) e pelo Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro (Senge-RJ) que tem no Sindicato dos Engenheiros da Bahia (Senge-BA) uma representação aqui no Estado. Além do Senge-BA, o Sindicato dos professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (Apub Sindicato) foi promotora da palestra, que ainda teve como apoiadores o Sindicatos dos petroleiros da Bahia (Sindipetro Bahia) e Sindicato dos Arquitetos da Bahia (Sinarq).

Abertura

Compuseram a mesa de abertura o vice-presidente da Apub Sindicato, professor Ricardo Carvalho, o Pró-reitor de graduação da Universidade Federal da Bahia, professor Penildon Silva, a Diretora da Escola Politécnica da UFBA, professora Tatiana Dumêt, o Geólogo Manoel Barreto, representando da Fisenge, a deputada estadual Maria Del Carmen e o presidente do Senge-BA, Engenheiro Civil Ubiratan Félix. As falas exaltaram a urgência de debater e estruturar um projeto de desenvolvimento não apenas soberano, mas inclusivo, através do investimento na universidade pública, na ciência e na tecnologia. O engenheiro Ubiratan Félix enfatizou que o projeto SOS Brasil Soberano é uma construção das entidades e engenharia para a sociedade brasileira, pois não será possível haver desenvolvimento sem a engenharia e vice-versa. “A construção de uma universidade pública capaz de entregar ciência, inovação e pesquisa só é possível em um país soberano”, disse. Criticou ainda a entrega do Pré-Sal e do setor mineral, a destruição da política autônoma de defesa nacional, além da destruição do parque tecnológico e das empresas de engenharia. Apontou, por fim que a relativização do processo legal e garantias individuais com o objetivo de combater a corrupção, na realidade cria um clima de instabilidade provocando estagnação econômica e caos social. O professor Ricardo Carvalho ponderou sobre o trabalho docente na universidade, questionando para quais empregos os alunos e alunas de engenharia estavam sendo formados/as: “estamos, na sala de aula, com esse problema. Aonde vai trabalhar a mão de obra que nós estamos formando e quais as oportunidades que eles terão? Ou nossos cérebros serão gentilmente convidados a se transferirem para os centros mundiais?”. Falou também sobre a importância do momento atual, que julga decisivo para a construção de um projeto para o Brasil: “retomar a soberania se confunde com democracia e também com desenvolvimento, porque também nós não teremos paz social se a concentração de renda continuar da forma como está no país.

Encerrada a mesa, a coordenação ficou com o diretor do Senge-BA, Engenheiro de Produção Allan Hayama e o diretor licenciado do Sindipetro-BA Radiovaldo Costa, que passaram a palavra ao palestrante.

Tecnologia própria é independência

Numa fala ao mesmo tempo instrutiva e emocionada Othon Pinheiro iniciou explicando porque prefere ser chamando de “engenheiro”: a patente de Almirante, não deve ser usada na vida civil. Ele recordou sua cerimônia de aposentadoria da Marinha brasileira, em agosto de 1994, reafirmando o que havia dito naquela ocasião: “como cidadão eu tinha três paixões: o Brasil, a Marinha e a Engenharia: eu me despeço da minha segunda paixão, que é a Marinha; da minha terceira paixão, que é a engenharia, eu só vou me despedir quando meu cérebro parar de trabalhar; e da minha primeira paixão que é o Brasil, nunca: eu espero ser enterrado nessa terra”.

Apontando o slogan “Brasil: tecnologia é a própria independência”, o engenheiro destacou que sem investimento em tecnologia e inovação “não há esperança para esse país”. Tampouco haveria capacidade de se desenvolver como uma nação soberana, que ele definiu como aquela onde o povo pode decidir seu próprio destino. Para ele, achar que um país que pode viver importando tecnologia de outros, é como achar que uma pessoa pode sobreviver apenas com transfusão de sangue, sem produzir o próprio: “É fundamental que o país desenvolva sua mentalidade científica, sem isso ele não tem futuro”.

O papel da mídia

Durante a palestra, o engenheiro fez também um alerta aos ricos que o monopólio midiático pode representar ao privilegiar narrativas que reforcem e justifiquem o ‘entreguismo’, as privatizações e um papel subalterno para o Brasil no cenário mundial. “Para reconstruir o país, pensar como deve ser a mídia é o primeiro passo”, afirmou. Como parâmetro, ele citou a lei de imprensa alemã, cujo exemplo considera exitoso.

História da Energia Nuclear

Ao tratar especificamente da questão da energia, o Othon Pinheiro apresentou dados e contextualizações históricas, no Brasil e no exterior. Falou sobre a descoberta da fissão nuclear e seu primeiro uso – a bomba atômica – e como essa primeira motivação para destruir faz com que até hoje a energia nuclear seja vista com receio e desconfiança. Relatou também alguns dos principais projetos nos quais esteve envolvido, como o REMO (propulsão nuclear) e o SNAC (submarino com propulsão nuclear), que enfrentaram as baixas do neoliberalismo dos anos 1990. Encerrado em 1995, o projeto do submarino nuclear foi retomado somente em 2007, através de recomendação do então Ministro da Defesa Waldir Pires. O engenheiro foi claro ao explicar que, no contexto brasileiro, a energia nuclear seria um complemento que balancearia as demais fontes e ajudaria a não sobrecarregar o setor hidrelétrico, por exemplo. “Ela faz um ‘colchão’ de energia permitindo usar menos a água do rio”. Um outro ponto destacado por ele foi que sendo um país com capacidade de desenvolvimento tecnológico e rico em reservas naturais, o Brasil é naturalmente alvo de ambições de outras nações: “temos tecnologia e temos reservas enormes e isso preocupa muita gente”, disse.

Ao final da exposição, Radiovaldo Costa levou a saudação da categoria petroleira ao palestrante, lembrando que ela tem sido constante nas denúncias dos ataques à soberania do Brasil. “Estamos aqui para reverenciar seu trabalho e reconhecer seu esforço na defesa da soberania nacional”. Ele ainda presentou o engenheiro com a biografia de Waldir Pires, com uma dedicatória especial do autor, o professor e político Emiliano José.

Veja mais fotos aqui

 

Fechar Menu