Pobres são os que mais sofrerão com o aquecimento global

Pobres são os que mais sofrerão com o aquecimento global

Por Tanara Regis
jornalista do Senge BA

A história mostra que os processos naturais de aquecimento e esfriamento levaram milhares de anos para transformar a Terra. Mas a crescente emissão de gases que aumentam o efeito estufa, produzidos pela atividade humana, conseguirá elevar a temperatura global até 5ºC, em apenas 100 anos, de acordo com o último Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, divulgado em 2013.

O atual aumento de 2ºC, referido pelos pesquisadores como “limite do perigo”, já demonstrou o potencial catastrófico do aquecimento global. Embora o Nordeste já sofresse a calamidade da seca, a crise hídrica que afetou o Sistema Cantareira que abastece a grande São Paulo, alarmou todo o país e o mundo sobre os longos períodos de estiagem devido às mudanças climáticas.

Para o economista e ambientalista, Sérgio Besserman, não é novidade que os olhos da mídia, dos governantes, empresários e da sociedade em geral tenham se voltado quando a tragédia afetou o maior polo de riqueza nacional. São Paulo é o estado com maior Produto Interno Bruto – PIB do país, um dos mais importantes polos econômicos da América Latina.

“Quando chegar aos 5ºC o mundo não vai se acabar e nem a humanidade será extinta. Porque os ricos financiarão soluções tecnológicas para se adaptarem as transformações, como o aumento do nível do mar. Mas e os pobres? Esses são os que mais vão sofrer com as mudanças climáticas”, diz Besserman.

No último dia 19/03, em Salvador, Sérgio Besserman ministrou a palestra do Seminário Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável, de iniciativa do Sindicato dos Engenheiros da Bahia – Senge BA e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama. O evento foi realizado no Ministério Público da Bahia – MP, no bairro de Nazaré, marcando o Dia Mundial da Água (22 de março).

“Na conferência da ONU, a Rio 92, falava-se em princípio da precaução para não se atingir a capacidade do planeta em suportar as agressões ao meio ambiente. Hoje já estamos nesse limite. Para não avançá-lo, as emissões mundiais de gases que provocam o efeito estufa devem ser reduzidas de 40% a 70%, entre 2010 e 2050, e desaparecer até 2100”, conclui Besserman.

Presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e de Governança Metropolitana do Rio de Janeiro, Sérgio Besserman é professor de economia brasileira na PUC-Rio, comentarista de sustentabilidade na Globonews e da cidade na rádio CBN.

Sustentabilidade– Além da presença de profissionais da área tecnológica e ambiental, representantes de entidades governamentais, políticos, empresários e pesquisadores, o evento surpreendeu pela grande participação de estudantes universitários, de cursos profissionalizantes e de nível médio.

Para o presidente do Senge BA, engº Ubiratan Félix, a presença dos estudantes é essencial, pois já estão sendo formados para mudarem os padrões de consumo. “Os futuros profissionais da Engenharia, por exemplo, terão como desafio fazer essa transição tecnológica em que o desenvolvimento e o meio ambiente sejam conjuntos, pois um não poderá ser realizado sem considerar outro”, conclui.

Clima e Saúde – Durante a abertura do evento, o superintendente do Ibama-BA, engº Célio Costa Pinto, alertou sobre as consequências do rápido aquecimento global nos processos biológicos. “O aumento de doenças ocorrerá em escala Global: serão mais casos de alergias respiratórias, problemas cardiovasculares, câncer de pele, de doenças transmitidas por mosquitos como a dengue e a malária, além do aumento da febre tifóide e da cólera devido à escassez de água”, disse ao ler às declarações do pesquisador francês Dominique Gombert durante um encontro sobre clima e saúde realizado em Paris, no ano de 2010.

Escassez hídrica – Diretor do Senge BA e do Crea BA, o engº Nilton Correia destacou o problema da escassez de água potável. Segundo a Fundação Nacional de Saúde, 19 milhões de brasileiros que vivem em áreas urbanas não contam com água potável. Outros 21 milhões que vivem em áreas rurais também não têm acesso à água tratada. Além disso, apenas 46% dos domicílios brasileiros contam com coleta de esgoto.

“O problema não está apenas em falta de barragens, pois as que existem estão ficando secas. Construir barragens é muito mais caro, por exemplo, do que recuperar a água e fazer replantio de matas ciliares”, fala Correia.

Nesse mesmo sentido, o deputado estadual, engºMarcelino Galo, ressaltou que a água não deve ser tratada como mercadoria, mas como bem comum, e que todos devem ter acesso à esgotamento sanitário. “O direito ao meio ambiente é fundamental para a vida humana, os mais pobres é que pagam caro com a crise hídrica”, diz.

Para a promotora de justiça, Dra Cristina Seixas, a Bahia e o Brasil carecem de gestão dos recursos hídricos e o Código Florestal resultou em retrocessos ambientais, como a redução de áreas que devem ser reflorestadas. “Estamos em crise hídrica há muito tempo, pois se não temos água é porque não temos florestas”, afirma.

Com a intensificação da degradação e do desmatamento, a floresta vem perdendo sua capacidade de captar e transportar umidade para o resto do País. Segundo pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), as árvores da Amazônia colocam aproximadamente 20 bilhões de toneladas de água por dia na atmosfera. Esta água é levada para o sul do continente, pelas correntes de ar, e se transforma em chuva.

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