Transformar a dor em luta

Transformar a dor em luta

por Fernanda Lima – Assessora de Comunicação Senge BA

Dos 33 homens, não houve um que se manifestasse contra a situação.  Nenhum dele se opôs, se compadeceu ou se sensibilizou. Este ano, nós sofremos o mais cruel dos golpes que uma mulher pode sofrer. No Rio de Janeiro, uma jovem de apenas 16 anos, foi estuprada por nada menos que 33 homens. Eles ainda gravaram e divulgaram em detalhes a jovem violentada, transformaram o corpo dela em um troféu. O Sindicato dos Engenheiros da Bahia (SENGE-BA) repudia o estupro coletivo, ocorrido no Rio de Janeiro.

No Brasil, cerca de 120 mulheres são estupradas por dia. Os comentários mais comuns sobre o fato são: “São doentes”, “Só podem ser animais”. Aqueles 33, e outros que abusam sexualmente de mulheres, não são doentes. São homens, relativamente saudáveis psicologicamente, que vivem uma sociedade machista. Onde as relações entre homens e mulheres são caracterizadas por poder e submissão, em que os corpos das mulheres, são sistematicamente desrespeitados e invadidos.

Em 2015, estudantes de todo o Brasil, tiveram como tema do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. O tema evidenciou a violência que é naturalizada e perpetuada todos os dias. Houve quem manifestasse contra o tema. Já em 2012, duas jovens de 16 anos foram estupradas por nove integrantes de uma banda baiana. Esses fatos estão interligados. Referem-se a uma cultura que objetifica a mulher, são atitudes que vão de uma piada na mesa de um bar, a censura de um comportamento, a autoridade sobre uma roupa até um puxão pelo braço em uma festa.

A cultura do estupro se manifesta quando existe uma grande desigualdade de gênero, acontece quando existe uma constante desumanização da mulher e objetificação de seu corpo. É expressa em violência física e simbólica, a tolerância e a normalização acabam incentivando ainda mais as atitudes violentas, entre os exemplos de comportamento associados à cultura do estupro estão a sexualização da mulher como objeto, a culpabilização da vítima e banalização da violência contra a mulher.

De acordo com o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, todos os anos 50 mil pessoas são estupradas. Porém esse numero pode ser ainda maior, estima-se que isso seja apenas 10% da quantidade de casos. Um silêncio que ecoa.
Diversos fatores fazem com que a vitima se silencie diante de uma agressão, uma vez que a mulheres tem o peso da culpa, medo e vergonha da denúncia. Uma cultura que sexualiza crianças, normaliza cantadas de rua, afirma que as mulheres não podem andar a noite sozinhas e que é reproduzida na publicidade e televisão.

Estupro é a demonstração masculina de poder sobre as mulheres, um caso como do Rio de Janeiro, Piauí ou ainda da duas jovens baianas, é sobre todas as mulheres. Precisamos quebrar esse ciclo vicioso e falar sobre a cultura do estupro, porque o corpo é da mulher e a decisão também. É preciso transformar a dor em luta.

SENGE

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